Vontade de palavrear sentimento solto, livre. Trago caderno e lápis comigo, guardiões da dança das palavras em volta da fogueira do sentir e dos sentidos. Lápis fica a postos para o registro do momento exato da dança que acontece quando bem quer, nunca se sabe quando a fogueira da vida desprenderá fagulha que vai me arder a pele, aquela que queima e não poderei ignorar. Caderno guarda páginas várias em branco, futuras danças reservadas. Guarda também outras tantas: palavra escrita, riscada, seta para um canto, seta para o outro – não era bem isso -, asterisco (talvez melhor assim), desordem, ordem, registros de mim. Lápis precisa ser ágil, a dança das palavras é frenética e num piscar de olhos o passo perfeito se perde, foi-se, a dança evoluiu para outro movimento, é preciso capturar a combinação perfeita de passos que se foram e os que se desenrolam agora, não perdê-los. Quando a palavra dança, se organiza, dá direção ao sentido. Movimento apreendido pela palavra solta, posso seguir no único sentido em que o tempo, tão pouco afeito a liberdades, permite caminhar: em frente. Aprisionar palavra cria espaço oprimido, desordenado, palavra se embaralha com outras, o peito vira cômodo de guardados amontoados, lugar de acumular poeira onde energia boa não encontra espaço para circular. Palavra gosta é de vastidão, liberdade para movimentos amplos, dança não ensaiada mas que resulta fluida. Palavra gosta do calor da dança em volta da fogueira viva, de estradar, de cabelo ao vento e pés na água, cheiro de verde. Palavra precisa de espaço aberto, palavra quer ir aonde o horizonte está.