Não, não sou destemida, a verdade é que tenho medo… medos, vários… mas nos caminhos da vida, esses caminhos às vezes tortuosos, às vezes suaves, ora iluminados, ora nebulosos, acabei, eventualmente, aprendendo um pouco sobre mim.

Aprendi que, em mim, são grandes alguns medos. Medo de perder meu riso, medo de ter olho sem brilho, medo de perder o deslumbramento vendo flor brotar, medo de deixar de namorar a lua e o maior de todos: medo de me acovardar. Medo imenso de que me falte a coragem para viver de acordo com minhas verdades, de acordo com as crenças que me fazem eu. Medo enorme de me encolher e me transformar em arremedo de mim mesma, medo de passar a ser outro arremedo, de alguém que não sou, e virar uma dessas pessoas-ninguém, essas que parecem viver num limbo: vivas, mas desprovidas de vida.

Este, que sempre me assombrou, é medo que me faz enfrentar todos os outros vários medos e é graças a ele que posso parecer destemida aos olhos teus. Foi este medo, o da covardia, do encolhimento, que sempre me fez enfrentar todos os outros e até o que eu um dia pensei ser o medo maior: medo da morte. Maior que ele, aprendi, é o medo do sofrimento que pode anteceder a morte. Bem maior que este último, porém, o medo de, por falta de coragem para o enfrentamento da vida – a vida com todos os seus recheios: doces, agridoces, ácidos (tudo é sabor, tudo aprimora o paladar)-, por insuficiência de dignidade e de amor à vida, deixar de ser quem se é, deixar morrer a vida em si, ainda em vida.

Bendito seja esse medo (esse sim, medo maior), medo que guia, impulsiona. Bendito medo que me faz viver, que faz pulsar o sangue em minhas veias e acende o brilho em meus olhos.