Tenho medo dos vazios que as desilusões nos causam. Ontem vi gente feliz e que comemorava. Não consegui enxergar o motivo de sua comemoração e me apiedei de sua superficialidade, uma vez que nada havia a comemorar. Vi gente triste e gente revoltada. Alcancei sua tristeza, mas não consegui atingir seu estado de revolta, embora quisesse tanto atingi-lo. Para atingi-lo, era preciso que eu acreditasse em tudo aquilo em que fervorosamente acreditam e há algum tempo não acredito mais. Crer é uma bênção. Em mim, o dia inteiro, só o nada. Há desilusões que nos devolvem a nós mesmos – as benditas desilusões-, mas há outras que são perigosas, estas que vão-nos esvaziando de nós, criando buracos onde antes havia esperança. Em mim, persiste somente o sentimento da poesia do Vinícius: “Vontade de beijar os olhos de minha pátria/ De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…”
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