Chegas silencioso e te aninhas em meu colo: há mantinha fofa, calorzinho bom. Passamos tempo aninhados. Olhamo-nos nos olhos, piscamos piscada longa um para o outro. Olho dentro de tuas orelhas e há sujeira, preciso te incomodar: passinho pro lado, filhote, e só com o toque leve, cujo sentido bem conheces, deixas o colo. Busco algodão, retorno: “Volta, filhote, vem.”. Atendes, me entendes, eu sei, não teria como não saber, a essa altura: há tanto o que já comunicamos um ao outro, ao longo desses quase quinze anos…
Queria não ter precisado sair, poder lamber tuas orelhas ali mesmo, ser tua mãe como querias, mas entre nós, adaptações são necessárias. Adaptações não fazem o amor menor, apenas adaptam-se a ele. Trouxe algodão úmido de água quentinha e te limpo. Te aninhas de novo no colo, ronronas. Trocamos nosso olhar longo e, do meu, escapa lágrima que eu não vi nascer, lágrima boa e quente como a manta no colo. Para o imenso do contido nesse momento, palavra não há. Ronronas e exceto por isso, silêncio… mas troca: intensa e de uma verdade como só sabemos tu e eu.
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