É do nascedouro da vida, a grandeza.
É da sua natureza a fartura
a proliferação
os cromossomiais encontros,
os brotos, os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores –
são suas mais finas dores.
As conseqüências, cachos,
as conseqüências, leite,
as conseqüências folhas,
as conseqüências frutos –
são suas cores mais belas.
É da substância do átomo
Ser partível, produtivo, ativo e gerador.
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza.
É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos,
nossos fatos apinhados de pequenezas.
Cabe a nós enchê-la, cheio que é
o seu princípio.
Todo vazio é grávido desse benevolente risco,
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro.
Peço ao ano-novo,
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações
nos livrem do infértil da ninharia.
Nos protejam da vaidade burra,
da vaidade “minha”, desumana, sozinha.
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que , ao nos aumentar, nos amesquinha.
A vida não tem ensaios
mas tem novas chances.
Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores! Abaixo o estéril arrependimento,
a duração inútil dos rancores.
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente e a virgindade dos dias que virão.

– Elisa Lucinda

 

(via Nei Rocha, que derrama poesia sobre nós)