Ah, menina… abre a porta, se joga na chuva e deixa a chuva lavar o que há de triste, o que há de mau. Sente a chuva: fecha os olhos e aprende com a tempestade e com o raio, que traz com ele trovão, que às vezes até a luz precisa chegar gritando. Às vezes, é preciso que até a luz faça barulho estrondoso para se anunciar, para ser percebida. Porque silêncio ninguém ouve mesmo e luz ninguém mais consegue ver, ocupados que estão todos em ver tanto breu e em gritar. Talvez – quem sabe? – tanto barulho seja só luz chegando e a gente é que não consegue enxergar, a gente é que não consegue ver.
Há de haver tempo mais brando, tempo mais quieto. Por enquanto, deixa que a luz chegue como pode, fazendo rachadura no céu e acordando com barulho os que dormem. Talvez despertem. Talvez ouçam. Talvez enxerguem. Enquanto isso, deixa a chuva cair. Enquanto isso, ouve o trovão que grita, oco, que a luz passou por aqui. E dança. Dança sempre. Dança, enquanto lava a alma na chuva. E na música que te embala, assim como no trovão, ouve a luz passar.
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