O moço me pediu que lhe desse elementos de mim e achei interessante estar do lado de lá. Em geral, sou eu que busco elementos para transformar gente e história das gentes em letra e palavra. Gostei do processo do moço, processo que bem conheço, só que do avesso, do lado de lá, mais confortável que o de cá, em que a gente tem que se mostrar do avesso. O moço precisava de elementos para me traduzir em imagem. De tudo o que lhe mostrei, o moço enxergou minhas mãos. Eu queria dança e movimento, ele viu diferente e gostei do seu olhar. Viu mãos que escrevem, mãos que cozinham, mãos que plantam, mãos que cuidam, mãos que criam aquilo com que desejam tocar o outro, tocar o céu, tocar o mundo. Mãos que criam movimento, mãos que fazem, que constroem, que iniciam e encerram ciclos dentro do ciclo infindo e maior. Fui sendo feliz com o que as mãos do moço iam criando ali, diante de meus olhos, com o que o moço enxergou ser eu e os elementos de mim, elementos que me fazem eu e minhas mãos foram-se unindo, em sinal de gratidão que era quase prece. Fui feliz deixando que o moço gravasse em mim o que suas mãos criaram a partir do que ele enxergou em mim.
Obrigada, moço, por ter me mostrado minhas mãos. Tenho olhado para elas minha vida toda, mas nunca as tinha visto como você as viu. Amei enxergar minhas mãos nesse contínuo infinito de dar e receber flores. Mãos… para que as quero? Para plantar e colher o que é belo.
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