Há tanto tempo combinávamos nos encontrar e nunca havia tempo. Semana passada, a dor atingiu a vida de minha amiga, então finalmente encontrei tempo. Eu não sabia o que dizer a ela, mas achava que se a abraçasse, se segurasse sua mão, ela compreenderia todas as palavras que eu não conseguia tirar de mim para lhe dizer. Escrevi a ela e para ela: tudo pouco, insuficiente.
Minha amiga perdeu sua filha, moça bonita que era tão igual a ela! O que se diz a uma mãe que perde a filha precocemente? O que se diz a uma mãe que vê uma versão mais amada de si mesma, tão jovem, perder a vida? Eu não soube o que dizer. Só pude ir até ela. Sentamo-nos todo o tempo lado a lado. Abraçadas, choramos juntas, lembramos seus pais já idos. Juntas, pedimos paz, força e proteção, entrelaçamos nossas mãos e as dela continuam sendo as mais macias que eu já toquei, em um adulto. Não nos víamos há anos e, no entanto, eu sabia tão bem o toque de suas mãos… no caminho para deixá-la em casa, em meio a tanta dor, rimos juntas, como sempre rimos, e é assim que sempre me lembro de nós.
Estamos há tanto tempo distantes e me dei conta de que eu estava entre os que ela tinha, naquele momento, mais próximos do que se poderia chamar família. Estar ali me fez pensar em tanta coisa… fez pensar em quantos amigos foram atingidos por dores profundas nos últimos tempos e pensei, então, que se é assim, é porque tenho vários amigos; isto eu sempre soube fazer – amigos – e me sinto feliz por isso, sou bicho gregário e gosto das diferentes gentes; pensei em como cada uma dessas perdas, que não são diretamente minhas, me entristeceu e pensei, então, que se é assim, é porque ainda me importo e isso é bom, não quero deixar de me importar – quem tem com quem chorar, tem com quem rir; pensei que tantas vezes achei que não tinha tempo para ir vê-la e, em meio à sua dor, arranjei tempo e me dei conta de que precisamos fazer tempo para os tempos felizes, porque tempo há, mas não priorizamos o tempo de estar juntos pelo simples motivo de gostarmos de estar, só porque somos amigos, porque temos sentimento profundo guardado em nós, porque gostamos de rir juntos; pensei que só conhecemos o toque das mãos daqueles que nos são muito próximos e concluí que minha amiga, há tantos anos distante, é, ainda, tão próxima: amizade é laço forte assim, amarra pontas distantes no tempo e no espaço. Pensei, por fim, em quão abençoados são os abraços e as mãos que se entrelaçam, veículos das expressões indizíveis, porque carregam em si algo tão mais forte e verdadeiro do que qualquer palavra é capaz, porque promovem os encontros que são reais e nos mostram, a nós mesmos, a força de sentimento tantas vezes esquecidos nas gavetas do tempo e da distância.
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