De novo te encontro, percorrendo linhas antigas, mas na verdade te reencontro sempre. Foi encontro casual, como foi aquele primeiro nosso, há tanto tempo, encontro que nos uniu tanto e tão especial, tão espontâneo que me fez, por muito tempo, questionar a bondade do Tempo. Achava que se ele, Tempo, fosse bom, teria me feito te encontrar na hora certa e aí eu te contaria histórias bonitas, te inventaria histórias e tua história podia ser outra. Hoje sei, foi hora certa, foi o tempo suficiente e necessário para a semente ser plantada. Nada nasce antes do tempo de nascer e nada morre, se permanece vivo dentro de nós. Semente viva um dia floresce. Hoje, são muitos de você nos corredores em que caminho, mas teu sorriso largo, teu abraço…esses, só teus. E ainda assim, acho que vou esbarrar com eles dia desses, por acaso, como acontecem essas coisas importantes que transformam a vida, por acaso.

Ah, Buiú… vi o garoto da Curva do Calombo e nele te vi. Moleque sem nome, filho das ruas, bom nem chegar perto. Quem não resistiu e chegou perto, conheceu Luiz Carlos, menino alegre, filho de alguém que não se sabe direito, que amava as pipas e não gostava de fazer dever, coisa recente em sua vida que nunca tinha conhecido amarras. Os seus não eram deveres de casa. Casa? Sua casa era a rua. Luiz Carlos gostava de abraço apertado, coisa também recente para quem não tinha sido apresentado a carinho. Quem chegou perto de você, Buiú, e te conheceu Luiz Carlos, não chegou perto o suficiente e um dia foi para longe, viver a vida que se espera dos incluídos. Nesse intervalo, não sei bem o que te incluiu… a exclusão te abraçou. Na falta de quem te abraçasse, você abraçou uma arma e, num intervalo dentro do intervalo, lá foi você, atrás de uma pipa sem amarras, atravessar a linha que não devia. Os que te fuzilaram só viram o Buiú. Não conseguiram enxergar que quem virou estrela foi Luiz Carlos, menino querido, do sorriso aberto, do abraço apertado, que não gostava de amarras mas queria uma chance para criar laços (e criou: alguns, laços que vão ao infinito).