Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Mora uma louca chamada Esperança:
E quando todas as buzinas fonfonam
quando todos os reco-recos matracam
quando tudo berra quando tudo grita quando tudo apita
A louca tapa os ouvidos
e
atira-se
e – ó miraculoso voo! –
Acorda outra vez menina, lá embaixo, na calçada.

O povo aproxima-se, aflito
E o mais velhinho curva-se e pergunta:
– Como é teu nome, menininha dos olhos verdes? E ela então sorri a todos eles
E lhes diz, bem devagarinho para que não esqueçam nunca:

– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Poemas para a Infância (Mario Quintana – Poesia Completa, Editora Nova Aguilar, 2005)

 

Imagem: Papilla Estelar. María de los Remedios Varo y Uranga, 1958.