Antes de começar o banho, salvava as mariposinhas para que não se afogassem. A mãe preocupava-se: sabia que o mundo não era lugar de muitas delicadezas e temia que ela jamais encontrasse um lugar seu no mundo; que ela não conseguisse lidar com as indelicadezas tantas do mundo. Por um lado, sempre dizia que a achava muito forte, mas era mãe: temia, enfim, que o mundo não tivesse, para a filha, os cuidados que a filha reservava às minúsculas mariposas.
Muitos anos se passaram. Continuava a salvar as mariposas antes do banho. Hoje mesmo, havia salvado algumas, mesmo aquela que insistia em voltar para a água, como se recusasse salvamento. Depois do banho, foi ver o violonista e sua amada, cantora de afinação perfeita, de voz daquelas que vão lá dentro do coração das pessoas. Seria dela a voz que poria música em suas palavras, haviam combinado. O violonista e a cantora reuniam amigos e amigos de amigos em torno de música, sopas quentes e energia boa, tudo para multiplicar a energia boa, para que as pessoas voltassem para casa aquecidas por dentro, pela sopa e pela troca. Todas as vezes que voltava de um encontro feliz como esse, a salva-vidas de mariposas achava que haviam sido exageradas as preocupações da mãe. O que não sabia – sequer imaginava – é que os espíritos das inúmeras mariposas que havia salvo, um dia, guiavam-na até os espíritos de luz que habitam corpos viventes. Por isso eram tantos os encontros iluminados em seu caminho. Mariposas não sabem outra coisa senão ir ao encontro da luz; sabem o caminho até as almas iluminadas. As mariposas são gratas; sabem retribuir o bem que lhes fazem.
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