Nestes dias em que poetas músicos e pops estão em alta, Leonard Cohen, amigo e uma das influências de Bob Dylan, lança novo álbum de inéditas: You want it darker. Recentementemente, em carta enviada a Marianne Ihlen – com quem viveu um romance quando mais jovem – e pouco antes que ela falecesse, ele escreveu: “Bem, Marianne, chegou esse tempo em que estamos realmente tão velhos que nossos corpos estão desmoronando e penso que te seguirei em breve. Saiba que estou tão perto que se você esticar sua mão, acho que alcançará a minha”. Talvez, sim. Se assim for, ele terá sido vanguarda até o último suspiro, como achei que ele seria desde que conheci sua obra, eu com uns vinte e ele já um senhor que ainda esbanjava charme.
You want it darker faz pensar que, se o corpo de Cohen está desmoronando, o mesmo não acontece com seu edifício interno. Sua mente, sua veia criativa e sua voz – *a* voz – estão mais inteiras que nunca. Há luz nele, mesmo quando mergulha em um balanço, em muitos pontos sombrio, de uma vida intensamente vivida, balanço que envolve fé e a ausência dela (em You want it darker, It Seemed the Better Way, Treaty, densas e sombrias), amor (If I didn’t have you love, de um lirismo tocante), fim do amor (em Leaving the table, melancólica como são os fins), solidão (em Travelling light, que expõe sua origem judaica e seu divertido ar de chansonnier), envelhecimento (em On the level), passagem do tempo (em Steer your way, talvez minha preferida e que, sem ter ouvido o álbum na ordem em que foi organizado, me fez pensar: tem que ser a música que encerra. Quase é, seguida apenas por String Reprise/Treaty, que tem um arranjo orquestral belíssimo.).
Tenho a impressão de que este é um daqueles álbuns que vão me fazer ter várias preferidas com o passar dos anos, como costumam fazer os grandes álbuns à medida que os decantamos e revisitamos. É uma obra-prima. Faz jus a Cohen. Se ele estiver realmente seguindo Marianne, terá pavimentado uma bela estrada para a despedida.
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