Houve tempo em que eu sonhava um tempo infinito para pão e  poesia. Batizei o lugar desse tempo panis et circenses e era isso todo o necessário, pois que com isso se alimenta estômago e alma. Eis que, talvez, esse tempo infinito não haja e tenha mesmo que me virar com os tempos que há, finitos, limitados. Mas eis, também, que todo infinito contém incontáveis finitos. Talvez haja, então,  infinito que se acomode a partir de minhas finitudes.

Desenhei futuros e talvez haja espaço, lá no infinito, para mais, e até mesmo para os desenhos que há tanto deixei de rabiscar, páginas viradas nem sei por quê. Um belo dia, não desenhava mais. Não sei qual foi o primeiro desses dias. A gente vai deixando pedaços da gente para trás em pedaços infinitesimais do caminho, pontos que não se sabe mais como encontrar, em meio aos infinitos outros pontos do traçado. Mas se o traçado é finito e ainda assim comporta infinitos pontos em si, então é verdade que possa caber o infinito no finito e com isto – me dou conta – me resolvo!

Não é necessário tempo infinito. Para que os pontos criem traçado, é necessário apenas que haja algo mais que o vazio. É preciso que haja elementos preenchidos a conectar, como eram conectados os pontos numerados no jogo da infância. Após conectados os pontos, formava-se imagem que fazia sentido e que podia ganhar cores. Conectar ponto a ponto forma algo que faz sentido. Começar cuidando que haja preenchimento nos pontos, para que não sejam invisíveis, deve tornar o traçado do infinito possível, mesmo dentro do finito que nos cabe.

 

Imagem daqui: https://www.facebook.com/PaoePoesia1/