Eu costumava achar que a saudade seria pesada, doída. Não é. Ela é presente o tempo todo, da mesma forma que te sinto presente, mas é acolhedora, me enche de gratidão por vir de onde vim: de você e da mãe. Vir de vocês traz responsabilidades de respeito pelo próximo, de autorrespeito. Acima de tudo, vir de vocês traz amor. Num mundo de toma-lá-dá-cá, materialista ao extremo, é pouco compreendida a percepção de vida de vocês, a que nos deixam como legado. Insistimos nela, hoje mais cientes de nossas responsabilidades, mesmo aquelas que por anos tentamos negar.
Fabi escreveu sobre você hoje. Linhas bonitas, que te descrevem:
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O pai estava sempre calado, pensando muito ou lendo. Era simples nos hábitos, mas sua elegância física era retrato da alma viajante. Bravo diante da injustiça ou de qualquer desvio da retidão. Tinha um humor preciso e humano. Era médium e, hoje, escrevo esse relato para o mundo sem nenhum receio. O verbo ser, no passado, retratou sua última encarnação. O Pai é uma alma introvertida, intuitiva, afetiva e disciplinada, em busca dos ensinamento do Cristo. Deu banho em moradores de rua e serviu pão e agasalho para os que não tinham alimento e teto. Há quem o olhe com valorização singela, daqueles que não encontram em sua trajetória títulos e aquisições. Ganhou outros filhos pela estrada, além dos seus três filhos biológicos.  Eu o vejo como um espírito em busca de evolução contínua, errando e acertando, mas que já entendeu o valor do amor ao próximo.
Que Jesus te inspire sempre, meu amado pai. Hoje, agora e eternamente.
Com amor, sua filha caçula. Aquela te te fez se aposentar e abrir mão de si em prol do cuidar.
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É bom te sentir perto, pai. Não ouso explicar o que você é hoje. Memória viva em mim, espírito em outra dimensão, milhões de pontos de energia espalhados por aí? Você sabe da minha dificuldade de fazer afirmações fortes sobre o que não sei, essa dificuldade que me inviabiliza para as religiões. Mas disso, sei com toda a verdade que há em mim, como sei da força maior que também não ouso explicar: você é presente.
Essa música, que eu não costumava ouvir, tem me vindo com frequência e te sinto conversando comigo através dela.
Estrelas
(Oswaldo Montenegro)
Pela marca que nos deixa a ausência de som
Que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
E a solidão nos bares que a gente frequenta
Pela mágica de um dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira a sua fantasia
E é como se fosse pouca
E a tua alegria não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo o que eu cantaria
Quando eu for embora, você cantará.