Começou assim: Washington, cara grandão e de alma enorme, chamou uns amigos, que chamaram outros, para um acampamento, pra vermos a lua cheia (e azul) nascendo de um lugar privilegiado. Ele e um grupo de amigos vão ali uma vez por ano e têm repetido esse ritual por anos a fio. O lugar, uma espécie de paraíso perdido na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Por respeito ao lugar e aos amigos que o tratam como santuário, me restrinjo à foto que ilustra o post. Lugar assim, a gente apresenta no boca a boca, para aqueles que temos certeza de que, se lá forem, terão cuidado de tentar não deixar qualquer rastro de sua passagem por ali. Somos pequenos demais pra deixar marcas em um lugar como aquele. O lugar é que deve deixar marcas em nós.

Chegamos lá, montamos acampamento e a gente logo saca quando encontra um grupo de pessoas que estão sintonizadas na mesma frequência que a gente. Todo mundo, ali, em sintonia com o lugar e a fim de sintonizar com os outros. Logo que o acampamento estava montado, todo mundo foi colocando a comida que trouxe em um mesão, nunca vi acampamento tão farto. E era bolinho daqui, tortinha dali, tudo dividido, em comum.

Washington teve o cuidado de providenciar banheiro químico, biodegradável, que ele e nenhum dos homens usaria. Para os homens, havia natureza à vontade em volta. Era para nós, mulheres. Toda moça que goste de acampar tem a exata noção da nobreza desse gesto.

Assim que começou a escurecer, lounge montado, com colchões infláveis, puff, tapetão (Washington tinha providenciado também um caminhão pra levar isso tudo pra lá), Ney e Marcus começaram a tocar, no violão e na flauta, as músicas que a gente gosta de ouvir quando se reúne. E mais pessoas foram chegando e se juntando. Por volta das 19:30, a Lua (vermelhona, nada de azul, fomos ludibriados!) apareceu, linda, majestosa, no meio da água. E todos nós ali, um tempão, de plateia pro espetáculo.

Voltamos à comilança e à roda de violão e aí surgiu uma moça, meio tímida, com pinta de gente boa, e ensaiou tocar um pouco de cajón. Depois alguém contou que ela tocava violão e cantava. Logo nos primeiros versos, reconheci a voz que já tinha ouvido tantas vezes, no meu carro e em casa. No post aí de baixo falo disso. A emoção transbordou discretamente pelos meus olhos, porque nesses momentos, de encontros tão casuais, mas já há tanto tempo marcados, a gente reforça a fé – creio profundamente nisso – numa trama do Universo para que os encontros que devemos ter se realizem. Uma trama que conspira pra que a gente possa agradecer a quem merece nossa gratidão.

A noite continuou linda, cheia de pessoas lindas, no lugar especial. Amanheceu, vimos o sol nascer, tomamos o café da manhã juntos, desmontamos acampamento e alguns de nós foram para a casa de Washington, numa praia a alguns quilômetros dali. Coube a mim preparar o almoço. Fiquei feliz. Enquanto cozinhava, só conseguia pensar: tomara que a comida seja capaz de traduzir uma pequena parte da minha gratidão.

Washington foi me mostrando o que tinha disponível, o almoço sairia de improviso, mas improvisar quando a gente está na cozinha de cozinheiro, cheia de ingredientes e de temperos, é coisa fácil. Comemos mignon suíno, tomates assados com cebola roxa e pimentão vermelho, batatinhas assadas e teve também, pra quem quisesse, paglia e fieno ao alho e olho. Neuzinha e João, vizinhos que haviam estado no acampamento conosco, se juntaram trazendo um risotto de camarão. Comi de tudo, devagar se vai ao longe.

As receitas, eu vou postando aos poucos. Importante pra mim, hoje, era compartilhar a sensação feliz de que aquele que abre seu coração encontra gente de peito aberto.

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Batatinhas assadas

Hoje não tínhamos alecrim, mas em geral faço assim:

batata bolinha;
alecrim;
sal grosso;
pimenta do reino;
noz moscada;
azeite;
alho.

Lave bem, com uma escovinha, as batatas bolinha e seque-as. Se não estiverem muito miúdas, corte-as , preservando a casca. Coloque em um refratário antiaderente, cruas e com casca, regadas com bastante azeite, sal grosso, pimenta do reino e noz moscada, estes a gosto (mas cuidado com o sal!). Jogue por cima uns galhinhos de alecrim fresco e coloque ali no meio alguns dentes de alho roxo, com casca, nos quais você deu uma pancada de leve. A casca vai evitar que o alho queime e amargue, a pancada vai permitir que ele libere seu sabor. Leve isso tudo ao forno até que as batatas estejam cozidas, douradinhas. Se for necessário, vá regando com mais azeite durante o processo.