Tempo, dai-me o ócio, que nele me invento.
No ócio contemplo e com ele me crio.
No ócio é que flui intento nem meu:
qual água de rio, desliza suave,
faz curva e prossegue;
escorregadio, vai dar aonde deve.
Lá na nascente, era intento vadio;
no leito avoluma, encontra outras vias,
esquece do tempo tão longo de estio…
Irriga as margens que dão alimento,
encontra outras gentes, recebe afluentes
que seguem seu curso, vão longe irrigar.
Na foz do ócio, o curso deságua,
transforma em energia o que, ontem, fio d’água.
Banhado por luz, produz arco-íris
e que produção maior haveria?
Já na nascente, o ócio sabia,
mas há sempre aquele que não o conhecia
e ainda duvide de tudo o que o ócio,
em silêncio gera, produz, prenuncia.
Pois há, todavia, aquele que viu
no delta do ócio, suas tantas vias
levando alimento a todo lugar –
sítio, não raro, que nem se sabia
aonde, a princípio, devia chegar.
Este, mais sábio (ou só experiente),
alinha a coluna e esvazia a mente,
saúda o sol e seu abraço quente,
inspira, expira, faz de si nascente,
confia no ócio e o reverencia.
Arte: Frederic St-Arnaud
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