Depois eu soube: sonhava. Enquanto não sabia, era real e era a vida de fato vivida. Ele ia à minha frente, como sempre esteve, barba longa, braços abertos, me guiando na estrada. Abria os braços em arco aos céus e me apontava as árvores, os pássaros, as pedras no caminho e os eventuais viandantes. Tudo deveria ser sentir e sentido. Voltava-se para mim e me exortava:
__ Abandona as palavras! Palavras são nada!
__ Mas se foram tuas palavras que me trouxeram até aqui?!
__ Se vens comigo, não é por leres minhas palavras. Muitos as lerão e manterão suas vistas e seus corações cerrados a elas. Se vens comigo, é porque sentes meu sentir. Abandona as palavras. Sente! Palavras são pontes que o tempo cuida de tornar obsoletas ao peso de cargas incessantes, até fazê-las ruir. O que fica das pontes é de onde aonde levaram. O que fica das pontes são os encontros que promoveram. Depois do encontro, as pontes ficam para trás, ruínas mortas, por onde já se passou. O que fica das palavras-pontes é o que vai do sentir ao sentir. Vem! Sente!
Eu sonhava o paraíso. No meu sonho, a vida de cada um era a liberdade na estrada de um poema de Walt Whitman:
“[…] Mon enfant! I give you my hand!
I give you my love, more precious than money,
I give you myself, before preaching or law;
Will you give me yourself? will you come travel with me?
Shall we stick by each other as long as we live?“
Deixar um comentário