(Para a moça querida, de cabelos multicoloridos)
Foi bonito vê-los buscando encontrar a felicidade juntos. Primeiro, tentaram do lado de lá do Atlântico e foram felizes. Depois experimentaram o lado de cá, onde, da sala pequena, abriam janela para a imensidão azul. Foram felizes. Tornaram a outro ponto do lado de lá, onde também descobriram haver felicidade. E outras coisas. Por ora, pousam separados pelo gigante mar de Atlas, que resiste bravamente, suportando o peso dos céus em seus ombros. Mas isto têm a dizer de si e de seu amor: buscaram e encontraram felicidade. Talvez que ainda se encontrem, talvez ainda encontrem felicidade juntos. Quem sabe em meio ao oceano, onde desaguam todos os rios, onde tudo é azul? Há de haver lugar azul que comporte o desaguar do amor. Talvez o céu, que acolhe os voos…
“[…] O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia. […]”
(Alberto Caeiro, in “O Guardador de Rebanhos” – Trecho do “PoemaXX – Pelo Tejo vai-se para o mundo”
Heterônimo de Fernando Pessoa)
Arte: Jenna Dickes-Deleo
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