Surge a Lua. Junto dela, Júpiter. Júpiter é gigante, mas se apequena diante da Lua. Júpiter sabe que é deus do dia e recolhe-se em ponto para que a Lua, rainha das noites serenas, brilhe grande no centro de um céu limpo, com moldura brocada de nuvens quase etéreas. Iluminadas pela luz da Lua, as nuvens esguias desenham dança lenta no céu calmo, flutuam fluidas e esticam-se feito o braço da bailarina no arabesque, terminando em ponta que é mão espraiando delicadeza. As nuvens só sabem, agora, de delicadezas. É noite, mas a clareza por trás das nuvens lembra que a manhã virá. Quando as nuvens deslizarem pelo topo da montanha, a manhã, guardiã da serenidade da Lua, chegará e lhe dará merecido descanso ( a serenidade da Lua exige descanso – brilhar traz cansaço, é preciso recolher-se). Por ora, noite. Júpiter é só ponto no quadro, mas brilha intenso e o brilho de sua entrega prende o olhar. Júpiter é diamante pequenino e lapidado no céu, mas bem sabe que não é pequeno, sabe-se gigante, o maior de todos, e tampouco importa-se por assim ser visto pelos que não sabem de sua grandeza. Só os muito pequenos não sabem da grandeza de Júpiter e o que pensam os pequenos, é minúsculo para a grandeza de tudo o que há. Júpiter não enxerga as pequenezas microscópicas; segue sem vê-las, brilha. É se apequenando que Júpiter encontra espaço no céu feminino da noite de hoje. Dando lugar à grandeza da Lua, à fluidez das nuvens e ao brilho de uma ou outra estrela solitária, Júpiter se destaca.

 

Foto: Gério Ganimedes.