Era luz rósea-amarela-azul-e-até-negra, que anunciava tempestade e trazia consigo vento que acarinhava meu rosto com a mão leve exalando cheiro bom de terra molhada. Larguei tudo – sei me render ao que é maior – e essa não era luz qualquer: era Luz. Que pode haver de maior que ver a beleza e sentir o perfume da terra deslizando no vento? Suspendi o tempo para eternizar a memória da Luz e da terra, enquanto sentia o carinho do vento. Luz logo partiu – é assim, efêmera -, foi visitar o lado de lá do morro e, não tarda, o lado de lá do mundo. Luz viaja rápido. Não importa que tenha partido: parei no momento preciso e vi a Luz, senti o vento que trouxe a terra até mim e lamentei que possa haver gente adormecida, dormente, gente aprisionada numa eterna noite que nubla os sentidos e não permite ver ou sentir o que há, ainda que breve… gente que não enxergue as estrelas em meio à noite (pois que luz sempre há). Luz se foi, mas meus olhos a viram. Em minhas retinas, ela existiu. Atravessou as retinas e alimentou essa outra luz, a que me faz insistir em continuar a ver e a sentir. É de momentos breves, fragmentos de tempo, que se faz – para quem escolhe mantê-la – a chama perene que ilumina os cantinhos lá dentro de nós.

(Tempestade, por ora, desistiu de chegar – deu-se conta de que o momento era de silêncio e brandura, não comportava o exagero de relâmpagos e trovões).