Acompanhar o envelhecimento de meu pai tem sido ao mesmo tempo belo e uma das maiores provas de amadurecimento que a vida já me colocou. É ser intimada a por em prática todas as minhas crenças: a crença de que os ciclos da vida devem ser vividos, sentidos e aceitos; a crença de que o amor é força que vive, independente de tempo e espaço; a crença de que existem vínculos tão fortes que transcendem aquilo que conseguimos ver ou compreender.
O amor de meu pai sempre foi discreto, como ele. É amor que se fazia sentir ao nos acordar, cedinho, de leve, baixinho. Ele sempre disse que não se deve acordar ninguém abruptamente e até hoje não consigo me acostumar a despertadores, acordo com música suave, como foi suave o toque dele ao me despertar, a vida toda. Diferente de muitos homens de seu tempo – ele tem 89 anos – meu pai nunca acreditou em educar os filhos com violência ou severidade excessiva. Nunca vi meu pai levantar a mão para mim e compartilho de sua crença, não acredito que se possa ensinar nada de bom com tapas. Tapas, no máximo, descarregam a raiva daquele que os desfere, mas não educam. O amor dele se fazia sentir ao me buscar nas festas, fosse a que horas fosse, sem reclamar, resignado, apesar de ele mesmo preferir a vida caseira, pacata. O amor dele se fazia sentir – dele que ama doces – ao dizer sempre, diante de qualquer sobremesa: ‘Não quero mais não, deixa para as crianças’. Para ele, ainda somos crianças e quando estamos em sua casa e os amigos telefonam, o ouvimos dizer, contente: ‘As crianças estão aqui’.
Os anos fizeram com que o coração dele fosse ficando mais mole. Hoje ele não tem qualquer pudor de pedir que a gente fique mais uns dias, de perguntar se a gente quer deitar na cama com ele e minha mãe. Quando a gente está por lá, acorda e vai se aboletando, cada um num cantinho – um dia aquela cama ainda há de desabar, com tanto marmanjo em cima. Também não tem pudores de se despedir, a cada final de semana que a gente passa em casa, dizendo, sempre: ‘Vocês me fizeram muito feliz por terem vindo’. Atualmente, mais que tudo, é isso que o faz feliz, ter os filhos em casa, essa que sempre será nossa casa, seja qual for a construção, porque nossa casa, de verdade, são ele e minha mãe. Um dia uma pessoa me disse que é uma benção ter pais que façam com que os filhos queiram retornar à casa. É mesmo. Sou grata à vida por isso, por terem me ensinado a valorizar o essencial. Ele nunca precisou de muito mais que isso. Meu pai sempre foi homem de hábitos simples. Desde que tivesse um livro às mãos, sempre esteve bem. E se tiver pizza, então, ele não precisa de mais nada. Aprendi, lendo, estudando, umas massas mais ‘profissas’ ao longo da vida, mas essa aqui é feita lá em casa desde que eu era criança. Por isso, pra mim, tem gostinho especial.
Massa de pizza:
15 g de fermento biológico fesco (1 tablete) ou 1/2 saché (5 g) de fermento biológico seco
1 c. (sopa) de açúcar
1 c. (sobremesa, rasa) de sal
1 copo (200 ml) de leite morno
1 x (café) de azeite
1 ovo
farinha de trigo (até soltar das mãos)
Se não for deixar crescer por muito tempo, ou se for um dia frio, chego a colocar um saché inteiro ou dois tabletes de fermento, mas em dias quentes, com tempo para fermentar, não há necessidade. Massas com muito fermento dificultam a digestão. Atualmente, só uso fermento biológico seco, que não mofa e tem validade longa. Misture o conteúdo do saché (ou meio) a 2 xícaras de farinha de trigo, Acrescente os demais ingredientes secos e então, o ovo, leite e azeite. Acrescente mais trigo até soltar das mãos e sove a massa bastante, tem que ficar lisinha. Deixe crescer. Eu costumo deixar crescer e guardar a massa dividida em três porções (que renderão pizzas médias) na geladeira. Dura por uns dois dias a três e fica leve. Costumo fazê-la fininha, mas com borda mais grossa. Monte a pizza como de costume: camada de molho de tomate e, por cima, o que seu coração mandar. No final, orégano, fio de azeite, pimentinha moída. Gosto de assar em forma de pedra-sabão, como a da foto: esquento bem a pedra-sabão no forno. Acendo o forno em temperatura máxima e deixo a forma lá, por meia hora. Quando ela está *bem* quente, polvilho a forma com fubá, dobro o disco de pizza em quatro e coloco na forma. Levo ao forno, rapidinho, para selar a massa, retiro e coloco a cobertura, retorno ao forno até ficar bonitona, o que acontece rápido.
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