Conheci a Lu com 10 anos de idade. Tinha acabado de mudar de colégio e as turmas na escola nova eram organizadas por inicial do nome. Como a minha é M, eu teria muitos amigos começando por L e M, pela vida afora. Vez ou outra rolava um J ou ia até P, mas Márcias, Marcelos, Marcos, Marcus, Marco (em todas as suas variantes), eram vários. Houve uma Marcela, outro dia conto, ela merece uma história só dela. Teve também uma Andrea, dois anos à minha frente, em outra turma, mas um dia a gente se esbarrou e grudou, outro dia conto também. Eu e Lu permanecemos sempre na mesma turma, até que no 1o ano do segundo grau (agora ensino médio), ela resolveu nos deixar, foi fazer escola técnica, CEFET. Eu achei aquilo um absurdo. Como é que uma criatura que adorava Literatura e História ia fazer CEFET? Afinal ela amava era Arqueologia!
O pai da Lu tinha conta numa livraria. Ela passava por lá, pegava um monte de livros (era CDF igual a mim) e ‘debitava’ na conta dele (lembro dela falando isso, ali eu aprendi o termo ‘debitar’). Depois me emprestava os livros. O primeiro Milan Kundera a gente nunca esquece e o meu primeiro veio dali. Mas a gente também lia uns troços bem mais trashes. Entre um Kundera e um Neruda, rolavam uns Sidney Sheldons. Dessa época, veio também o belo, singelo, ‘Longe é um lugar que não existe’, do Richard Bach, quase que só ilustrações, pouquíssimo texto, que eu guardo até hoje, com a dedicatória da Lu. Talvez a gente já intuísse, lá naquela época, quão verdadeiro era o sentido daquele livro. Talvez, não, e só viéssemos a saber disso com o tempo, esse mestre sábio.
Lu foi fazer Unicamp e o interior de São Paulo a roubou de mim por muitos anos. Ela ainda vive por lá. Até que a gente se achou de novo, pela internet, esse veículo que – dizem as más línguas – afasta as pessoas umas das outras. Voltamos a nos encontrar e, num Réveillon, combinamos que ela viria aqui pra casa e eu finalmente conheceria o Sérgio, marido dela. Quando conheci o Sérgio, perdoei o interior de São Paulo por ter roubado a Lu por tanto tempo. Ela tinha que ir parar lá, nem que fosse só pra conhecer essa figura rara. A internet trouxe de volta a Lu, a Lu trouxe junto o Sérgio e a certeza de mais pessoas que compõem um círculo que pode não ser diário, presencial, mas é um presente, e verdadeiro.
Nessa estadia aqui em casa, depois do Réveillon, um dia fomos ao supermercado, eles escolheram um melão orange e disseram que fariam uma massa com molho do dito. Esquisito, né? Macarrão com melão…confesso que pensei: ‘Vamos ter que comer, né? Eles são visita, fazer o quê?’. Pois faça o mesmo! Tenha coragem e prove o molho de melão orange. É simplesmente delicioso!
Ingredientes:
1/2 cebola picada miudinha
2 colheres de manteiga
1 fio de azeite
1/2 melão orange em cubinhos miúdos
1 taça de vinho branco seco (acho que não tinha no original, mas pode colocar que fica delícia),
caldo de legumes
noz-moscada, pimenta moída (usei preta, branca e rosa)
ervas de provence*
1/2 frasco de creme de leite fresco
um bom punhado de queijo parmesão.
Preparo: refogue a cebola na manteiga e azeite, acrescente o melão, pimenta, noz moscada e o caldo (quando não tenho caldo pronto, uso um sachê de Mais Sabor). Junte o vinho branco e deixe reduzir. Acrescente as ervas, o creme de leite. Quando apurar, junte o queijo e ajuste o sal. Salpique mais ervinhas e pimenta moída na hora de servir e nham! nham!!!
Gosto de fazer com rigatoni, como na foto, mas já usei esse molho também por cima de um franguinho grelhado e fica dez!! Ah! E já ia esquecendo: tem um rondelli de massa fresca, recheado de brie e damasco, que foi feito para este molho.
*Um conselho: compra aí umas ervas de provence bacanas. Vai valer o investimento e também não é nenhuma fortuna. Um vidrinho daquelas importadas, já com moedor, sai por uns R$13,00. Você paga bem mais que isso por uma porção de batata frita encharcada em óleo saturado, no boteco ali da esquina. Comprar ingredientes legais pra cozinhar em casa é um investimento bem mais saudável. Também não compre um saquinho daquele de ‘ervas finas’ não, que não vai ser a mesma coisa, de jeito nenhum! Procura ervas de provence. Ali tem tomilho, alecrim, segurelha, orégano, manjericão, sálvia, alfazema!!! Esse perfume todo não vai vir do saquinho de ervas finas que só traz salsa e cebolinha desidratadas.
Uma constatação: a internet não tem o poder de afastar ninguém de ninguém. As pessoas é que escolhem se afastar. Às vezes, se afastam até de si mesmas.
Tenho umas receitas pra vc testar…mas vai ter que provar primeiro aqui em casa…tá me devendo!
Eu vou. Espero que logo! 🙂