Vi o vidro tampado com as frutinhas cristalizadas na geladeira e lembrei os pães trançados que ela fazia, cheios dessas frutinhas. Eu as havia guardado desde dezembro, estavam mais secas do que deviam, então quis deixá-las num banho aromatizado de água com raspas de laranja, pinguinho de mel e essência de rum, jeito de pedir desculpas por meu descaso. Depois escorri e deixei sequinhas, junto de um punhado de uvas passas, para rechear a massa.
Hoje em dia todo mundo está sempre em dieta, então não se faz mais pão doce trançado em casa. As crianças que chegaram depois da partida dela não os conhecem, me dei conta, e fiquei triste pelos pequenos que chegaram depois.
Achei este aqui muito parecido com os que eu a via fazer e a ajudava a trançar, desde que minhas mãos ainda eram pequenas e iam sendo guiadas pelas dela. Foi este o que eu fiz. Só acrescentei uma pitada (colherinha de café) de sal à massa, do jeitinho que ela fazia. Ok, também acrescentei 3 colheres (sopa) de leite condensado aos ingredientes da cobertura, confesso (se a gente vai chutar o balde, melhor bater com categoria).
Que me desculpem os adeptos das dietas funcionais, mas função de comida é, também, criar e nutrir a memória gorda do amor em nós.
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