Teus cabelos eram tão brancos que me lembravam nuvens e me faziam pensar, sempre que chegavas, que atrás de ti viria o céu. E era assim mesmo: tua chegada era sempre como um céu de dia ensolarado, tamanha a expectativa e alegria que despertava em nós, sempre… E teus olhos, tão verdes que só de olhar para eles havia esperança: em teus olhos, tudo havia de ficar bem.
Hoje sei quão simples eram as angústias que eu depositava em teu colo, mas me pareciam grandes e era tua, então, a chave de minhas certezas, sempre que conspiravas comigo a realização de meus desejos.
 
Faz tanto tempo que não vejo teus olhos, então, quando teu dia se aproxima, me vem o medo de esquecê-los, medo de que a esperança se apague. Mas agora há pouco, quando tentava lembrá-los e trazê-los vivos da memória, quando buscava cada um dos verdes de teus olhos, foi teu cheiro verde quem me visitou. Teu cheiro é vivo e mais que tudo, é ele quem te traz a mim (teu cheiro, tão cheio de vida, é quem). Com ele, vêm o céu, paz, esperança: azul, verde e tuas alegres sempre-vivas. Sempre vivas: como você, em mim.