Quando eu era menina e, por compromisso de trabalho, minha mãe não podia comparecer a algum evento em minha escola, ela me enviava telegrama em que me dizia o quanto gostaria de ter estado presente, registrava seu orgulho por me ter como filha. Eu me sentia importante quando recebia um telegrama daqueles e me orgulhava. Sempre me orgulhei, vendo a mãe sair para trabalhar, sempre tão bem arrumada; vendo a mistura de deferência, respeito e carinho com que era tratada em seu trabalho. Pensava que um dia ia querer ser mulher ativa assim, produtiva, independente, respeitada e querida em meu trabalho. É assim que me lembro dela durante toda a minha infância e juventude. Minha mãe sempre trabalhou e nunca a senti ausente – ao contrário -, talvez por essas delicadezas que ela inventava, arranjando jeito de estar perto, registrar presença e amor, mesmo que momentaneamente ausente. Tenho seus telegramas, hoje já amarelados, guardados em meu bauzinho, e cada um deles é presença da mãe em um momento importante para mim, presença que guardou registro para a posteridade.

Ontem, pela primeira vez, eu não pude estar presente no dia dela, por causa do meu trabalho. Antes de seguir para o aeroporto, fui buscar o serviço de telegrama fonado, aquele mesmo que a mãe usava para me enviar suas mensagens, e descobri que não existe mais, não havia me dado conta. Fiquei meio triste, já me imaginava ditando a mensagem para a moça do outro lado da linha. Aprendi que, agora, telegramas são encomendados pela internet. Enviei o meu logo cedo, esperando que chegasse ontem mesmo, mas os correios também não são mais os mesmos (ontem liguei para a mãe e ela não me falou nada sobre entrega dos correios). Hoje ela me telefonou. Estava emocionada, ela que sabe exatamente o quanto de amor e desejo de presença se coloca dentro de um desses envelopes urgentes. Desliguei, emocionada com essas voltas grandes que o tempo dá, invertendo papéis, mas nos levando ao ponto de partida, criando laços cujas pontas vão desde a origem de nós até onde decidamos levá-las, amarrando-as em mais e mais laços de amor.