Prefiro a alegria porque minha alegria eu entendo: sempre sei de onde brota. Alegria vem sempre de dentro. Já tristeza, tem uma que nasce de dentro, todo mundo tem, e com essa tenho aprendido a lidar, todo mundo tem que aprender, ainda que tarde. Mas existe tristeza que vem de fora e gruda na gente – existe sim, embora haja quem discorde de mim e afirme que toda tristeza sentida é tristeza nossa. Já tentei explicar a tristeza de fora e são raros os que me entendem, só os que a sentem também. A tristeza que vem lá de não sei onde e faz a gente ter vontade de chorar sem saber por quê, essa que faz o olho da gente transbordar lágrima alheia, essa é a tristeza difícil, porque a gente não sabe quando o dono das lágrimas vai parar de usar nossos olhos para o transbordamento de que não tem coragem. Para tudo há que se ter coragem: para a tristeza também. A tristeza não apropriada parece que fica vagando por aí, até encontrar quem a absorva e dê jeito de transmutá-la em outra coisa, coisa mais leve, coisa melhor. Então talvez a gente não deva tentar aprender a não ficar triste. A gente tem é que aprender a transmutar.