Ah, moça! Vejo-te ao longe e pareces definhar, pálido esqueleto, caminhando sem viço. Parece mesmo que um dia foste bela. Não definhes, não. Escolha a Vida! Os dias passam, sucedem-se uns aos outros e aquilo que ontem mesmo era motivo de tristeza, hoje é admiração: foi por isso que chorei? Ademais, todo aquele que caminha por estas terras tem, por obrigação, a busca pela felicidade. Esta é a vocação última de todo ser: ser feliz.

Contaram-nos aquelas histórias tristes de amores shakespearianos e tentaram fazer-nos crer que há uma beleza sublime no padecimento e nos fins trágicos. Não acredites, não. Contos cinzentos! Bela é a alma iluminada pela alegria! E a tua alegria está aí mesmo, dentro de ti. Remexa, cavuque, escave. Tu hás de encontrá-la. É tua, só tu tens a chave que a liberta. Os fins de tuas histórias, tu os escolhes, não te prendas a fatalidades. Busca no lugar certo, olha para dentro de ti, pois que enquanto a buscas – a alegria – no outro, segues definhando, triste sombra de ti mesma.

Com o tempo, aprenderás em que cantos ela gosta de brincar de se esconder e um dia, quando teus encontros interiores com tua alegria acontecerem mais e mais amiúde, verás: não te contentarás em chamá-la alegria e, em verdade, nem precisarás chamá-la, senti-la te bastará. Mas vez em quando, para fazer crer a ti mesma que ela existe, sussurrarás seu nome, baixinho, sem que ninguém te ouça. Alegria, então, amadurecida, terá escolhido rebatizar-se. Preferirá ser chamada Felicidade.

 

__Mariane Branco

Imagem: Woman in Flowers. Odilon Redon, 1904.