(Gonzaguinha) Há muito tempo que eu saí de casa Há muito tempo que eu caí na estrada Há muito tempo que eu estou na vida Foi assim que eu quis e assim eu sou feliz Principalmente por poder voltar A todos os lugares onde já cheguei Pois lá deixei um
(Almério) Ele Tinha tanto medo de sofrer que preferiu ficar sem ninguém Mas na solidão sofreu por medo de sofrer por alguém Tinha tanto medo mas o mundo viu esconder o medo é guarda-se da chuva no frio Nunca ainda é cedo viver no vazio Triste de quem guarda de
A moça, que sempre gostou de estar perto das gentes que formam seu povo e pensava conhecê-las, finalmente viu realidade dura a ponto de fazê-la sentir estrangeira vinda de terra distante, em meio à sua própria gente, em meio à sua própria terra. Sentiu-se gringa, a começar pela pele alva,
Ela me perguntou se não me assusta a ideia de ter marcas definitivas na pele. Não, nunca me assustou. Tenho aquelas nas pernas, que me lembram as molecagens da infância, tenho a outra que foi necessária para extirpar de mim o que era ruim, que eu aprendi a chamar de
O moço me pediu que lhe desse elementos de mim e achei interessante estar do lado de lá. Em geral, sou eu que busco elementos para transformar gente e história das gentes em letra e palavra. Gostei do processo do moço, processo que bem conheço, só que do avesso, do
Poesia, hoje sei: desaguar do excesso do que não coube, transbordamento. Depois da cheia, jorrar incessante, vazante do todo. Medo: vazio sem fim, secura em mim. Deserto. Sequei? Andei as dunas, lá cogitei da só existência da areia que o vento carrega bem longe... até a que agora era sob
É do nascedouro da vida, a grandeza. É da sua natureza a fartura a proliferação os cromossomiais encontros, os brotos, os processos caules, os processos sementes os processos troncos, os processos flores - são suas mais finas dores. As conseqüências, cachos, as conseqüências, leite, as conseqüências folhas, as conseqüências frutos
Um mundo novo não se faz com palavras, bem sei, mas palavras podem embrionar atitudes. Um mundo novo não se faz com palavras, mas palavras são pontes para o que se queira entregar ao mundo. Um mundo novo não se faz com palavras, mas há palavras necessárias e à altura
Desejo: que haja quem nos ame justamente pela existência - e nunca apesar - de nossos despropósitos. Desejo: ter coração forte e alma grande o suficiente para ser despropositada pela vida afora, para não desistir de carregar água na peneira. Não lamentar o escorrer da água pela trama da peneira.
"De vez em quando, Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo." (Adélia Prado)
