Hoje acordei, Dia da Mulher, e fui logo dar uma olhada no que a mulherada anda querendo. Encontrei um discurso em que a mulher queria isso (opa, eu também!) e mais isso (idem, idem) e isso também (same here!, dedinho levantado). Fui gostando do discurso e me encontrando, até que (epa!): “Não queremos flores”. Pronto, danou-se… se quer isso tudo, não pode querer flores, não? Eu quero, ora, e daí?! Aí me bateu uma revolta. Como assim, cara pálida, não queremos? Juntei meus quereres todinhos e fui navegar, tentar achar algum lugar em que eles coubessem e onde coubessem flores. Eventualmente acabei encontrando lugares cheios de floreios (lugares em que se queria aquilo e mais aquilo e aquilo também). Embora tenha gostado das flores em um deles, achei a mulher nesse lugar (e nos outros, seus similares) meio mártir-sofredora-resignada. Eita, tô fora! Juntei meus quereres de novo- a essa altura, já meio trapinhos de quereres; ali também não era lugar para eles.

Já no final do dia, foi  ela quem me ajudou a me entender, como frequentemente faz: “É que você não quer ‘isso *ou* aquilo’, isso e aquilo excludentes; você quer é ‘isso *e* aquilo”. Era isso! Ela matou a charada de novo, fiquei contente. Aí peguei caminho de volta e vim refletindo (para isso serve o caminho). Penso a vida, vez em quando, em diagramas de Venn e aí me veio o diagrama dos espaços de nossos anseios, nós, mulheres. À esquerda, aí em cima, o espaço grande reservado no mundo para a mulher que queira ‘isso *ou* aquilo’ e aceite que se quiser isso, não poder querer aquilo não, onde já se viu? Espaço grande, largo, folgado, esse, para caber bastante mulher. É no ‘isso *ou* aquilo’ que a maioria quer que a maioria das mulheres fique. À direita, bem menorzinho, o espaço para a mulher que queira ‘isso *e* aquilo’.

E ainda há quem pergunte por que é que a gente fala em luta. É que quem quer ocupar esse espaço pequeno, espremido, oprimido, vez ou outra precisa dar umas cotoveladas ou umas joelhadas certeiras para abrir caminho, ampliar o espaço. É luta, sim, quem vive espremida nesse espacinho sabe que é luta, mas a luta é contra os que querem nos oprimir. Que a gente tenha união e força pra dar muito murro, soco e pontapé nas bordas desse espacinho, até que ele se amplie e as que venham depois de nós não precisem lutar tanto para ter só o que é justo: direito de ser tudo o que querem e podem ser, direito à plenitude.