Sim, eu sei. É preciso aceitar os ciclos, preciso aprender que cada ciclo faz parte do ciclo maior e que o ciclo maior de cada um faz parte de ciclo muito maior. É preciso acolher a energia fresca do início de um ciclo e fazer paz com a lancinante dor do fim do outro, este que neste mesmo exato ponto se encerra. No ponto de encontro, inteiro em cada lado, mas dividido, o coração, joguete da vida, lançado de um extremo a outro. Na trajetória, entre um lado e outro, seu volume se expandindo: quanto espaço! Quantos corações inteiros cabem em um só coração e antes eu não sabia! Quanto espaço para a dor, quanto espaço para a felicidade, quanto espaço para o amor! Um coração inteiro para cada e, às vezes, como que por mágica – outras por maldição – todos ao mesmo tempo: coração se multiplica e pode ser inteiro em cada coisa, antes eu não sabia. Em meio a tudo, receio: coração, já sei, expande-se ao infinito, mas o peito é limitado e talvez rache, até exploda. Em meio a tudo, o receio de que a entrega de um coração inteiro ao novo ciclo vá deixando de oxigenar a memória do que foi ontem e que era eu, memória daquilo que guardava, inteiro, um de meus corações, esse coração que não quero que se desfaça com as cinzas e que tanta vida me deu. Em meio a tudo, o amor que sobrevive; em meio a tudo, o amor que vive; em meio a tudo, o amor que nasce. Um coração inteiro para cada.

Ah, coração meu, a quantos desdobramentos teus hei de sobreviver antes que meu peito exploda e lance ao ar todos os corações inteiros que em ti abriguei, me abriguei, múltiplos de mim – eu que só sei ser coração… e mais nada?

Colagem: Bedelgeuse