Janeiro do Rio é tempo de ver a vida quarando sob o sol, na areia. Em janeiro, no Rio, a vida é suada, oleaginosa, morena com mechas claras de fios que o vento sopra pro olho. A vida corre, pula na água, volta pra areia, dá uma estrela, tira o cabelo da cara e ri. A vida que periga se perder da vida tem medo de molhar o cabelo. A vida carrega a vida medrosa no ombro, de popa pra cima e proa pra baixo, joga na água. A vida renasce na água, toma um caixote e levanta meio atordoada do susto… já já pula na água de novo e nada entre cardumes de peixes, manchas escuras que deslizam pela água azul esverdeada, cristalina. A vida vem com baldinho na mão e se derrama na cabeça da outra vida, que fecha os olhos ardidos de sal e ensaia choro, que logo vira riso fresco, como todo choro na vida já virou ou há de virar. A vida passeia levitando em pipas que lembram pássaros astecas. A vida pega carona na onda e se equilibra, feito deusa de Olimpo no topo do azul grande, que vai ficando branco e vira espuma, pra de novo azular e crescer, em ciclos que imitam a vida. A vida faz flexões enquanto a outra vida faz reflexões na areia. A vida captura flashes de vida em instantâneos. A vida observa a vida ao redor e acha essa vida tão ridícula quanto fascinante, tão corriqueira e ordinária quanto única e extraordinária, a mesma vida. A vida sente o calor da vida. A vida para pra aplaudir o pôr do sol, enquanto ele vira ponto brilhante no meio do róseo da hora dourada, até desaparecer atrás da montanha. A vida segue, iluminada, ponto brilhante em meio ao espetáculo grandioso da Vida.