De repente, me peguei pensando: por que é que sempre que escrevo sobre os que mais amo só me atenho a seus atos cotidianos, aqueles quase corriqueiros, banais?

Acordar o outro com carinho, preparar o café e trazer calor na xícara, trazer coberta quando o frio aperta, dormir junto para afastar o medo real de coisas irreais, ligar só para ouvir a voz do outro lado e saber se está tudo bem.

É que na soma dos afetos contidos na repetição incontável desses pequenos gestos, faz-se real a existência do amor. É nessa soma, longa e lentamente acumulada, que se forjam os amores resilientes, aqueles que ficam. Há, claro, os gestos grandiosos, despertados por sentimentos outros – ou seriam sensações?

Tendo a ser um tanto avessa a cenas grandiosas, cheias de holofotes reais ou virtuais, principalmente se envolvem algum tipo de ensaio. Para mim, quero apenas os gestos pequenos, espontâneos, mas que tragam parcelas de afeto verdadeiro para o amor que, somado, é tanto que pode ser dividido com folga e reverbera em outros, que reconhecem no amor verdadeiro o amor que guardam em si mesmos.

A força resultante de cada vida é a soma dos momentos compartilhados em inúmeros gestos de amor.