Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina, em “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”. 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p. 139.

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa.
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria.
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo.
Aprendi a viver.

– Cora Coralina, [O poema acima, inédito em livro], foi publicado pelo jornal “Folha de São Paulo” — caderno “Folha Ilustrada”, edição de 04/07/2001.

Fonte: Templo Cultural Delfos.

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Na contramão dos conselhos de Cora em “Aninha e suas pedras” e em consonância com o acúmulo de pedras refletindo seu aprendizado, em “Assim eu vejo a vida”, a meditação por meio do empilhamento de pedras é uma antiga arte zen, praticada como forma de se buscar o equilíbrio. Michael Grab tem belos trabalhos nessa linha, que podem ser vistos aqui. É dele a foto que ilustra esta postagem. O vídeo vem de Gravity Meditation.