(para minha mãe, que ama uma batucada)

Vida sacudiu
Dancei!
Mundo desmoronou
Requebrei!
O bonde passou
Saltei!
O sonho mudou
Valsei!
Ilusão desandou
Sambei!
E ri de mim mesma
Gargalhei!

Sacode, vida!
Remexe, sacode!
Batuca em meu peito
Implode, explode!
Refaz o desfeito,
embrulha o malfeito,
carrega o insosso
que pesa, é encosto!
É massa encruada,
não serve à fornada.
Sacode, vida!
Remexe, sacode!
Me traz som, zoeira,
sabor, brincadeira!
Levanta a poeira,
minh’alma é jongueira
e o que eu quero é leve!
Me leve contigo!
O que eu quero é livre!
Me livre o castigo
de não ser mais eu,
de perder o ritmo
e aceitar o incômodo
e me acomodar…

Deus me livre!

Viver escondida,
não pulsar mais vida,
viver sem batuque
e me encolher…
Perder o meu muque
e esmorecer…
Não sentir a música,
não ser mais criança
me perder da dança,
até não dançar!
Batuca, batuca
Que eu quero é sambar!
Pulsa Vida! Oxalá!

–Mariane Branco

Vídeo: Parabelo. Grupo Corpo. 1997.
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
Cenografia: Fernando Velloso e Paulo Pederneiras
Figurino: Freusa Zechmeister
Iluminação: Paulo Pederneiras