Sábios, poetas e dadaístas me alertaram, ao que calei e ouvi: não há sentido algum na busca por algum sentido, pois que sentido não há. Mas se não há sentido, então como chamar esta coisa que nos chama e norteia e que não se sabe nomear, força propulsora a nos impelir e sem a qual a vida não é Vida, mas sucessão de horas vazias?

Não sou sábia, nunca serei, e não sei seu nome, então chamo-a sentido e a busco, e sem ela não sei existir. Talvez os sábios a tenham experimentado tão intimamente que não precisem nomeá-la. Simplesmente a tratam por tu e a vivem e acolhem. Sacodem saquinhos com papéis embaralhados e a chamam de qualquer coisa. Sentam-se junto dela no chão e com ela têm intimidade grande, daquela que dispensa as conversas e preenchimentos artificiais (bem verdade que aquilo que em nós existe tão naturalmente pode parecer não existir).

Sábios olham-na nos olhos, a coisa de nome qualquer, e silenciam e têm convicção de sua plena inexistência, e preenchem-se de sua ausência. Sábios, que nela não creem e que aceitam naturalmente sua inexistência, a transbordam – que sentido haverá nisso? – e é esse transbordamento que nos faz seguir buscando.

 

Imagem: Max Ernst. Colagem do livro ‘Une Semaine de Bonté’, 1934.