Minha rua está cheia de pregões.
Parece que estou vendo com os ouvidos:
“Couves! Abacaxis! Caquis! Melões!”
Eu vou sair pro Carnaval dos ruídos,

Mas vem, Anjo da Guarda… Por que pões
Horrorizado as mãos em teus ouvidos?
Anda: escutemos esses palavrões
Que trocam dois gavroches atrevidos!

Pra que viver assim num outro plano?
Entremos no bulício quotidiano…
O ritmo da rua nos convida.

Vem! Vamos cair na multidão!
Não é poesia socialista… Não,
Meu pobre anjo… É… simplesmente… a Vida!…

–Mario Quintana, em A Rua dos Cataventos, 2a ed.,1994, p. 22.

Imagem: A Feira II, Tarsila do Amaral. 1925.3131