… e faz dela metade de tua própria vida, e me torna metade mais viva, por te ter como minha metade. Toma minha mão e entrelaça teus dedos nos meus, de forma que tuas mãos, sem o entrelace de meus dedos, percam o tato, não saibam o toque, não se saibam mais mãos. Toma minhas frases e adivinha seus fins, antes que eu mesma saiba como as terminar, deixa-me sorrir com tua sintonia e com a surpresa de me saberes melhor que eu mesma. Toma meu mau momento e transforma-o em riso frouxo, faz alquimia de meus humores, guarda contigo a chave do meu riso. Toma meu corpo e transforma em massa sem peso, desafia comigo as leis do universo, revoga-as todas, mesmo as que eram incontestáveis antes de nós. Toma a curva de que gostas e faz dela tua estrada, passeia por ela sem pressa, e cria luz curvilínea em meio à transparência. Toma minha despedida e transforma em reencontro e a cada dia me faz retornar e viajar contigo aos lugares que sonharmos juntos. Toma-me menina e me ama mulher, mas me olha nos olhos e enxerga a menina, mesmo quando a luz que vem deles já estiver nublada pelo tempo. Toma as marcas que se formam em meu rosto e nelas grava tua história e me deixa escrever minha história em teu rosto e comprovar o traçado gravado em tuas mãos. Guarda comigo o orgulho pelas linhas que escrevermos juntos e jamais as tente apagar, nelas há tanta beleza! Toma a minha vida e transforma em mais vida e vive comigo o milagre da multiplicação da vida. Até que a vida nos transforme em luz.

__Mariane Branco.

Imagem: O Beijo. Gustav Klimt, 1907–1908